10 junho 2007

Ana Cristina Souto


Em ti


Em ti
minha voz tempestuosa
encontra paz
dos teus anseios lavrados.

Em ti
descobri o silêncio duro
que renega como escudo
à minha tola intrepidez.

Em ti
pus amarra nos punhos
sacrifiquei tua doçura
para manter-me dignamente pura.

Em ti
morri e removi montanhas
talhei em mármore teus olhos claros
que reluzem o pó do meu tesoiro.

Em ti
Ah! Em ti!
Amei-te como quem lava um leproso
e das fímbrias do meu ser
lambi tuas feridas e entranhas
cuspindo o mal à tua cura.

Em ti
ressurjo poisando no cimo
das tuas costelas
que as dedilho brincando
num ábaco
enumerando as meias-verdades
revelando a brisa passada
no dia em que contavas
tuas sublimes sardas.

Em ti
não há estação que adorne
a saudade do turbilhão
dos beijos que ora me deste.

Em ti
foram as maçãs do teu rosto
que comi pecaminosamente
sem remorso aparente
matando a fome do meu ventre.

Pablo Neruda

Fragmento de um texto


... Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o "preto no branco" e os "pingos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam o brilho nos olhos, sorrisos e soluços, corações aos tropeços, sentimentos...