28 abril 2007

Soares Feitosa

O Prisioneiro



Trouxeram-me a prisioneira ao interrogatório.

Recusei-me às perguntas porque as respostas estavam ao passado.

Sequer o futuro se lhe indagou;

que também recusou perguntar, quando os carrascos lhe disseram:


— Pergunte o que quiser.
Ela apenas balbuciou:

— Eu sei.

Mentíamo-nos, porque jamais nos víramos.

Decretei a prisão imediata de todos os carrascos.

Mantive a prisioneira sob algemas,

que ninguém é louco de manter tesoiro tão rico ao léu;

mas, prudência maior, soltei-lhe os braços e mudei as algemas
aos meus próprios pulsos.

Ela — os gestos diziam que me seriam sob afagos.

Deixei: apenas que os olhos, os cabelos úmidos:

— Os meus? Os dela?

Era o chamamento.



Fortaleza, noite, 11.12.1999

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Imagino essa cena em cinema. ou talvez na voz de voce e do soares.
evohé para suas homenagens do poeta.

05 maio, 2007 07:11  
Anonymous Anônimo said...

Imaginação é tudo, caro Afonso.

Abraços

Ana.

05 maio, 2007 11:51  

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