21 agosto 2006

Pedro Lyra





ANUNCIAÇÃO


Aqui, eu.

Neste mesmo lugar
tão diferenciado pela poesia da tua passagem.

Dentro de mim
meu coração bate tranqüilo,
meu sangue circula normalmente,
minha alma sabe que sou eu.



Lá fora
a lua espraia encanto pela terra,
o vento larga uma canção pelo infinito,
o mar enrola um apelo no silêncio.

Todos os elementos
seguem
cumprindo como sempre as suas funções.

Mas
aos poucos
o coração começa a bater como temendo,
o sangue começa a queimar dentro da espera,
a alma começa a me desconhecer.

Por quê?

Pode ser a lua que viola a sua rota.
Pode ser o vento que ultrapassa os horizontes.
Pode ser o mar que se estrangula além da terra.

Ou pode, simplesmente,
pode ser apenas, simplesmente, o espaço
que se abra – anunciando
a tua volta.

(Do livro Contágio - Poesia do desejo - 1993)