05 dezembro 2006

Soares Feitosa


A Lágrima Súbita

Nenhuma grande chuva
jamais encheu
o mar;
nenhuma seca do Ceará conseguiu baixar
o nível das águas
deste mar-oceano;
logo,
esta lágrima súbita,
neste mar salgado, é inútil
como volume.


— De que medos tenho coisa?


Transito eu - ela disse - entre o abismo
e a lembrança;
que agora,
neste borrifo de espuma e brisa,
os escorridos da minha face me confundem:


— serão de mim,
serão do mar? —


— De que medos tenho eu?


Por que agora uma lágrima,
nascida num canto de minha face,
quando lágrimas
só as conheço de alegre?


Seria este azul de mar
profundo, fundo,
cheio, soturno,
a fonte obscura do meu terror?

Se eu chamar a reflexão,
aplacadas serão minhas aflições?


Ou, mais prudente clamar pelo sonho,
que prefiro imaginar, agora:

(optei pelo sonho,
claro que é sonho)

esta vontade de fugir
e cavalgar horizonte e brisa,
tanger os ventos no corcel dos meus cabelos,
navegar os azuis e céus na esquina de minha face
e quando gritar por lágrima,
venha, senhora lágrima,
eu quero
eu preciso chorar,

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e de surpresa,
quando olhar de lado,
é sonho, claro que é,
reencontrar,
no vento ligeiro,
a fuga dos teus olhos!?