10 agosto 2006

Ana Cristina Souto


Saudade



Não é a ausência dos ausentes
É a agonia de um suspiro doloroso.
É o torpor de trevas amortalhadas.
É um espectro que cavalga descontente;
aspirando o pó do caminho nebuloso,
num vago tropel de cortejo solitário,

Jaz em companhia ao seu cavalo de tróia;
tenta invadir o coração inusitadamente
e depois compreende o mal de ser serpente.
Escapar à vida,
quem da morte jamais voltou;
parece ter dentro de si, o inferno encarcerado.

Reprise de sombra e escuridão;
- cálice amargo de fel centrifugado.
- saudade é quase lepra e maldição!

Não me pergunte uma única vez o que é saudade;
jamais saberei responder a contento.
Será um horrível suplício?
Ou um castigo trazido do Olimpo
sob a ira de Zeus por desacatá-lo?

Ah incógnita maldita!

Ainda que eu traga no peito
a dor descomedida desse indecifrável enigma
só posso adiantar que nenhum punhal
é capaz de ferir nossa alma
assim,
- tão feroz e lentamente -

Apoteose única de dor;
formando crateras abismais
tocando a sinfonia da morte
convocando os soldados sepultados
que nos deixa à vigília dos fantasmas
e à espreita dos abutres.


7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ana, você sabe como eu curto poesia... as suas me entorpecem, me transportam...Esta eu já conhecia e adorei!

10 agosto, 2006 06:01  
Blogger Ana said...

Obrigada Agnes. Vindo de você, sei que é sincero.

Bjs

10 agosto, 2006 19:44  
Anonymous Anônimo said...

"Finjo ser" é lancinante!!! Suas palavras jorram com força e ao mesmo tempo com sutileza feminia. Adorei a composição!

15 agosto, 2006 10:30  
Anonymous Anônimo said...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

16 agosto, 2006 16:05  
Anonymous Anônimo said...

Agnes

Vc é sempre um amor. Obrigada

17 agosto, 2006 22:13  
Anonymous Anônimo said...

muito bom esse poema!a dor da saudade
é ferida sem fim!vc retratou com
maestria!Parabéns.

Calaça

17 março, 2009 23:06  
Anonymous Anônimo said...

obrigada Bento

29 maio, 2009 12:56  

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