09 agosto 2006

Mario Quintana






Em 30 de julho comemorou-se 100 anos do nascimento de Mario Quintana e seus leitores acham que ele está escrevendo cada vez melhor. Não que tenham sido descobertos textos inéditos, mas sua popularidade cresce como se ele estivesse produzindo incessantemente, tal como ocorreu da estréia - nos anos 40, com o livro de sonetos A Rua dos Cataventos - até a sua morte, em 5 de maio de 1994.

Mario Quintana sempre viveu só, lutando para sobreviver de seus escritos, como cronista do Diário do Povo - jornal de Porto Alegre com o qual colaborou durante quase toda a vida -, como tradutor ou com seus livros. Nunca teve casa ou se casou, vivia em hotéis ou, como disse quando foi despejado de um deles que ia virar prédio de luxo: "Não tem importância, moro dentro de mim." Também não gostava de falar da vida pessoal. "Nasci em Alegrete, em 20 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão."

Acessível (como querem seus fãs) ou popularesco (como o vêem seus críticos), ele demorou para ter reconhecimento. Candidatou-se várias vezes à Academia Brasileira de Letras, mas nunca se elegeu. Ainda bem que, nesse item, tem a companhia do historiador Sérgio Buarque de Holanda. Fora do Rio Grande do Sul, seus poemas raramente integravam antologias escolares ou como exercícios didáticos, a exemplos de seus contemporâneos ou das letras da música brasileira, a partir dos anos 60. Neste caso, também sua popularidade aumentou, como atesta a Casa de Cultura Mario Quintana, que funciona em Porto Alegre, no prédio onde foi o Hotel Majestic, sua residência durante 12 anos. Hoje, a função da Casa é fornecer material didático e de pesquisa sobre o poeta. É o maior centro cultural de Porto Alegre, recebe 47 mil pessoas por mês. Muitos são estudantes da escola fundamental e média, que vêm conhecer Quintana; outros chegam atraídos pela programação variada de cinema, teatro e música que a instituição oferece; mas muitos turistas querem estar onde o poeta viveu, conhecer seus objetos pessoais e até respirar o mesmo ar que ele. "A maior curiosidade do público é quanto ao quarto dele", diz o diretor da Casa, Sérgio Napp, que assumiu o cargo em 1987. Ele dá conta das várias moradias que Quintana teve, sempre em hotéis, às vezes na dependência de mecenas, a não ser no fim da vida, quando o governo gaúcho passou a lhe pagar uma pensão. "Viveu aqui de 1968 a 1980 e, quando o hotel fechou, mudou-se para o Presidente, que também fechou. Então, o jogador de futebol Paulo Roberto Falcão o convidou a morar no Hotel Royal, de sua propriedade. Sua última residência foi o Hotel Porto Alegre, um apart perto dos lugares por onde ele passeava."


"O amor é quando a gente mora um no outro"
(Mario Quintana)