09 agosto 2006

Ana Cristina Souto




















No cume da noite


Rompo o tempo com uma canção de bolero
Persigo minhas presas como uma pantera faminta
Saboreio a caça com total serenidade
Converto meus anseios em fome saciada

Renego as memórias ancestrais
Venço o dia com o suor do meu cansaço
Glorifico cada instante como sendo o último passo
Concebo o mundo como um enigma decifrado

Evoluo com a idade do calendário
Experimento a insensatez da lúcida esperança
Distraidamente chuto as pedras do caminho
E desbravo horizontes com a minha peregrina jornada

Fujo de mim e esqueço inúmeras verdades
das sombras e das escuridões
Uma ilusão alada
Encorpora-se ao meu coração

Permaneço em repouso
Um cheiro de ervas inebria o luar
Escalo cumes para tocar as estrelas
E finco minha bandeira na noite devassada.


Ana Cristina Souto